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Transtorno afetivo bipolar (bipolaridade)
É muito comum, quando ouvimos falar em transtorno bipolar, ter em mente pessoas que sofrem um misto entre episódios de tristeza e depressão com sintomas de mania e euforia, mudanças abruptas de humor e irritabilidade. Isso é verdade até certo ponto. Após muitos anos, estudos e consensos, hoje sabemos que a pessoa que sofre do transtorno bipolar pode manifestar um quadro clínico bastante variado e, por isso, hoje se fala muito no espectro bipolar.
Bom, vamos começar entendendo o que é espectro. Uma forma de explicar seria quando analisamos algo em um padrão dimensional ( um continuum ) ao invés de dividirmos em categorias. Confuso? Pense assim, você pode ser do tipo 1, do tipo 2, ou do tipo 3, mas e se você for uma pessoa tipo 1 e tiver algumas características do tipo 2 em você, como você seria "classificado"?
Essa é a importância do espectro. Quando olhamos o diagnóstico da maneira antiga tínhamos uma prevalência na população de cerca de 1% de pessoas com transtorno bipolar. Hoje, ao pensarmos no espectro, a prevalência aumentou para 5%. Não é que o número de pessoas doentes aumentou; o que melhorou foi nossa forma de fazer o diagnóstico! Temos, então, muitas pessoas que serão beneficiadas de um diagnóstico mais preciso e , portanto, de um tratamento adequado.
Muitas pessoas que fazem parte deste espectro ficam durante anos e anos com um quadro depressivo, trocando de remédios e de médicos, sem nenhuma resolutividade, praticamente perdendo as esperanças em ter uma melhora.
A doença costuma dar seus primeiros sinais já na adolescência ou idade adulta jovem. Ao serem abordadas em uma consulta com mais atenção verificamos momentos de euforia, de descontroles financeiros ou emocionais ( que muitas vezes passam despercebidos ), aumentos súbitos de energia, sentimentos de grandeza e auto-estima inflamada, pensamento acelerado, dentre inúmeras outras características, muitas vezes sutis, e aquela depressão de anos, que nunca melhora, talvez seja na verdade seja parte do espectro de bipolaridade.
Agora cuidado: existem muitos mitos a respeito do transtorno bipolar. Pessoas que mudam de opinião ou de "humor" com frequência; indecisão, mal humor e irritabilidade são comumente taxadas de bipolares, porém, estes não sãõ critérios suficiente para dizer que uma pessoa tem a doença. Segundo o DSM V ( manual que classifica as doenças de saúde mental ) para fecharmos este diagnóstico precisamos que os sintomas de mania durem, no mínimo, sete dias e as fases de depressão cheguem durem pelo menos duas semanas
É importante ter em mente que a doença pode acarretar inúmeros problemas na vida a pessoa que não tem o diagnóstico e o tratamento corretos. Dificuldades sociais, problemas nos trabalho, abandono de compromissos, dificuldade em controle financeiro, vício em jogos, sexo e drogas. A doença bipolar associada com ao uso de drogas, inclusive, apresenta taxas elevadas de tentativas de suicídio.
O tratamento se baseia em uso de medicações e psicoterapia. Não existe uma "receita de bolo"; cada paciente tem algum predomínio de sintomas que deve ser trabalhado. A medicação ajuda a reestruturar a bioquímica cerebral ( neurotransmissores ) e, com isso, diminui os episódios de mania. A depressão é um pouco mais difícil, mas também tem tratamento e nesses casos a união da medicação com a psicoterapia é fundamental!
Concluindo. É muito importante perder o preconceito que existe com a palavra “bipolar”; também é muito importante entender os conceitos dessa condição foram evoluindo ao longo dos anos e , também, ter em mente que os medicamentos estão cada vez mais seguros e com menos efeitos colaterais. Não se deve ter medo de procurar ajuda médica e entender melhor o que está acontecendo com sua saúde mental; também não se deve ter medo de tomar medicações, caso elas sejam necessárias; a qualidade de vida da pessoa que busca e faz o tratamento adequado melhora muito! O estigma que, mesmo em 2019, existe sobre a saúde mental precisa diminuir e o melhor caminho para isso é a educação e a informação.
Dr. Tiago F. Souza de Araújo, médico neurologista em Curitiba
Aí que entra o espectro!
Sabemos que cada pessoa é singular e assim também é a pessoa com bipolaridade. Temos um “ polo “ de episódios maníacos e um “ polo “ de episódios depressivos, mas entre um polo e outro temos um infinito de sintomas e características individuais. Uma analogia famosa e bem bacana é a capa do álbum do Pink Floyd “ The Dark Side of the Moon”, de 1973; nele vemos uma luz branca encontrar um prisma e, dali, saírem várias faixas de cores. Ou seja, o que era “luz branca”, quando olhada de uma maneira mais atenta, se transforma em algo muito mais rico e complexo.
Pink Floyd - The Dark Side of the Moon